A
MULHER DO RIO GRANDE DO SUL
As épocas são caracterizadas pelas
idéias, as quais geram inúmeros acontecimentos. Não podemos sequer pensar, que,
em cada período da história interfere uma única corrente ideológica, pois a
evolução social não é linear.
A história da humanidade constata a
sujeição da mulher em relação ao homem, o que não anula a existência de
mulheres, que se destacaram naquelas épocas remotas, nos mais diferentes
setores das atividades sociais, muito embora, pouquíssimo se tenha registrado. Essa
é a grande razão da sociedade falar em machismo & feminismo.
O feminismo, como movimento organizado,
surgiu de fato, na Revolução Francesa e a história da emancipação da mulher
tomou vários rumos.
Atualmente, a mulher abandona, cada vez
mais, o galope dos cavaleiros andantes de um ideal meio lírico de libertação,
vendedor de ilusões, para posicionar-se lado a lado dos homens na estrada da
grande aventura impregnada de desventuras.
A sociedade rio-grandense tem tradição
machista, pois é originária de uma oligarquia militarizada, que demarcou
fronteiras, através de lutas e de guerras.A formação da mulher, desde a mais
tenra idade, é direcionada para cuidar dos afazeres domésticos, rezar, enquanto
aguarda o casamento com o noivo, que era escolhido pelo pai.
A liderança singular da mulher, como
mola-mestra do lar, não pode ser anulada e tão pouco esquecida pela sociedade
gaúcha, pois sua participação ativa sempre deteve a estrutura da família e da
sociedade.
Não podemos esquecer, que a mulher sempre
trabalhou nas estâncias, assegurando a economia do Rio Grande do Sul, enquanto
seu pai, esposo e filho saiu para defender as fronteiras e os ideais
rio-grandenses.
Dentre tantas grandes mulheres, que se
destacaram no cenário Rio-grandense, em defesa das nossas fronteiras,
destacamos a Marquesa de Alegrete: heroína anônima, nobre pampeana, que em 14
de janeiro de 1717, na Batalha de Catalan, ao lado do esposo Marques de
Alegrete - Luiz Telles de Caminha e Menezes e do filho, ajudou a escrever, com
sangue suor e lágrimas, a história das batalhas entre Portugal e Espanha,
servindo como enfermeira, mãe e até soldado, na demarcação de fronteiras do
nosso pago gaúcho.
A participação da mulher foi de
fundamental importância no contexto da formação histórica, social e cultural do
Rio Grande.A Revolução Farroupilha colocou a mulher num encontro ingrato e
arriscado com a vida, porém, por mais ameaçadoras, que se tenham apresentadas
as circunstâncias, ela sempre soube manter-se firme: quanto mais a situação era
adversa, mais a mulher soube se transformar na forja sagrada das convicções do
herói farroupilha.
A mulher guerreira ficou conhecida por
"vivandeira", a "china de soldado", foi a mulher, que
acompanhou as tropas em seus deslocamentos e permaneceu nos campos de combate
cuidando do soldado.
A mulher estancieira foi a mulher, que
permaneceu na estância, administrando as lides campeiras e domésticas, tomando
conta do lar, dos filhos, da estância e cuidando dos negócios do homem ausente,
que rezava pelos vivos e chorava os mortos. Era, aos olhos de Deus e da
sociedade patriarcal - a mãe, a esposa, a filha - permanecendo em casa,
aguardando ansiosa o desfecho da guerra e o retorno do guerreiro.
A história também registra a mulher
farroupilha do decênio heróico, que foi a mulher que, de uma forma ou de outra,
figurou na história oficial do decênio heróico. Dentre elas, citamos Anita
Garibaldi (Ana Maria de Jesus). Mulher intensamente feminina, ativa, forte de
ânimo, de decisões rápidas, uma exímia cavaleira, que despertou em Giuseppe Garibaldi
um fortíssimo sentimento, mesmo nos poucos contatos, que tiveram em Santa Catarina ,
quando da invasão de Laguna pelas tropas farroupilhas, além de Maria Josefa da
Fontoura Palmito, que promovia reuniões políticas em sua casa, em Porto Alegre , em
apoio a Bento Gonçalves e aos Farrapos, também defendia a libertação dos
escravos e tantas outras.
Muitas foram as heroínas desconhecidas, que lograram entrar na história, mas nem sequer seu nome é conhecido, como Caetana, esposa de Bento Gonçalves da Silva e Elautéria, mulher de Manuel Antunes da Porciúncula.
Muitas foram as heroínas desconhecidas, que lograram entrar na história, mas nem sequer seu nome é conhecido, como Caetana, esposa de Bento Gonçalves da Silva e Elautéria, mulher de Manuel Antunes da Porciúncula.
Foi neste dificílimo momento, que o valor
da mulher farroupilha foi testado, fazendo com que seu coração vivenciasse as
inúmeras novas circunstâncias, levando a sujeitar-se às necessidades, aos infortúnios,
mas ela foi competente em sua função, incansável no desempenho do seu papel.
Encantadora e generosa, companheira, não se deixou arrastar por convicções
derrotistas, deixando na história um admirável perfil, abrindo perspectivas
esplêndidas de esperança para seu companheiro, com admiráveis e imprescindíveis
fatores decisivos e determinantes da inacreditável persistência dos farrapos.
A mulher farroupilha, com seu sentimento
de compreensão e solidariedade, muito auxiliou o desenvolvimento da semente da
República Rio-grandense, fazendo frutificar, em heroísmo, a alma da gente
farroupilha. Ela soube avaliar e enfrentar o perigo, não para receá-lo e sim
para combate-lo. Esta foi a mais sublime e valorosa lição feminina, raramente
descrita com a merecida justiça e homenagem dos pósteros.
A mulher sempre promoveu a mais iluminada
unidade de fé, auxiliou a compor as mais importantes páginas da história
gaúcha, em meio a grande destruição, acreditou e fez acreditar, que sempre se
salva algo dignificante da vida.
Inúmeras foram as heroínas anônimas, que,
cuidando dos filhos, dos interesses familiares e da economia do Rio Grande,
deram ânimo, apoio e acreditaram nos anseios farroupilhas.
Voltando o olhar sobre nosso heróico
passado, constatamos que, mesmo durante o dramático e sangrento decênio
farroupilha, o homem nunca esteve só: a providência divina colocou ao seu lado
uma grande auxiliadora e fiel companheira, que lhe foi idônea.
Como vive atualmente a mulher gaúcha? Nós
mulheres já paramos para pensar quantas profissões exercemos ao mesmo tempo?
Será que nosso companheiro e esposo, filhos já imaginaram o que é ser, ao mesmo
tempo, mulher companheira, mulher mãe, mulher profissional a buscar o seu
espaço, mulher economista, mulher enfermeira a cuidar de seus filhos e
familiares adoentados, mulher psicóloga a entender, a auxiliar, a dar ânimo ao
esposo, ao filho, frente a situações do cotidiano, mulher doméstica nos
afazeres do lar, mulher cozinheira a preparar o alimento para a família, mulher
intelectual, mulher social, mulher telefonista, mulher política, tudo por conta
dos inúmeros afazeres diários? Pois é isso mesmo, na volta das vinte e quatro
horas do dia, uma única mulher exerce todas as profissões possíveis e
imagináveis.
O tradicionalismo prima por preservar,
divulgar e cultuar a tradição gaúcha, ou seja, o patrimônio sócio-cultural
desta sociedade com tradição machista.
Mas a mulher gaúcha, com sua intuição
feminina de simplicidade, sentimento materno e inteligência, soube conquistar
seu espaço ao lado daquele que é considerado o "mais machista dentre os
homens".
A mulher tradicionalista está ao lado do
homem tradicionalista a orientar, a administrar e a planificar o
tradicionalismo gaúcho. A mulher tem contribuído e muito para o engrandecimento
e fortalecimento dos princípios, da filosofia do tradicionalismo, do cumprir e
fazer cumprir seus Estatuto e Regulamento, suas normas, ao desempenhar funções
como Patrão, Coordenadora Regional, Conselheira e detentora de outros cargos
tão importantes e decisivos na estrutura organizacional e administrativa do
tradicionalismo gaúcho, no propagar, divulgar e cultuar a tradição do Rio
Grande.
É bem verdade, que somos uma minoria, mas
por opção da própria mulher e não por imposição do homem tradicionalista.
Em 1947, surgia a Ronda Gaúcha e a Chama
Crioula, cujos idealizadores foram homens. Em 1948, eles idealizaram a primeira
entidade tradicionalista do Rio Grande do Sul, que foi o "35 CTG", em Porto Alegre. Embora
tenha rompido com grande sucesso, a presença feminina foi mais acanhada. A
mulher custou muito a integrar-se.
O grande e incansável companheiro Cyro
Dutra Ferreira, em sua obra "35 CTG" - O Pioneiro do Movimento
Tradicionalista, faz o seguinte registro: Somente em junho de 1949, aconteceu a
primeira reunião com moças da sociedade, especialmente convidadas. Dela
participaram: Maria Zulema Paixão Côrtes, Derce Paixão Côrtes, Suli Dutra
Soares, Sarita Dutra Soares, Lory Meireles Kerpen, Íris Piva, Norma Dutra
Ferreira, Nora Dutra Ferreira, Damásia Medeiros Steinmetz e Linda Brasil
Degrazzia. Na reunião, foi apresentada e aprovada a proposta da criação da
Invernada das Prendas, tendo sido nomeada como Posteira Lory Meireles Kerpen.
Também foram convidadas Lia Eilert dos Santos e Cyra Eilert dos Santos, as
quais não obtiveram permissão do "velho", que queria primeiro ver no
que dava a coisa... De fato e de direito, as irmãs Marilia e Ludemilla Zarrans
são consideradas as primeiras prendas do movimento, pois, em algumas
oportunidades, foram as duas primeiras colaboradoras do "35". Também
é registrada a presença da menina Verinha Simch Vieira, que por ser criança,
tinha a permissão de descer para o porão, visto que seu tio Cincha participava
das reuniões.
A transformação política, social,
econômica e tecnológica chegou ao Rio Grande do Sul, obrigando a mulher gaúcha,
a prenda tradicionalista sair às ruas, em busca de melhores condições de
sobrevivência, porém conservando intacto o seu sentimento pela tradição gaúcha.
Como mulher partícipe da sociedade
gaúcha, como mulher tradicionalista, como mulher profissional, mãe, dona de
casa, tenho a convicção de que a mulher conquista tudo que desejar, sem
colocar-se contra o homem, até porque seria um desperdício, mas colocar-se ao
lado dele, conquistando, com galhardia e absoluto zelo, seu espaço, sua
valorização pessoal e profissional, um lugar em que não precise falar em
machismo & feminismo, baseado na autenticidade, na participação.
Conjunta num mundo estruturado no amor e na paz
social.
NO DIALETO
GAÚCHO
Guria = menina, moça
Prenda = mulher do gaúcho
China = mulher do peão
Chinoca = guria que se pilcha de
bota e bombacha ao invés do vestido de prenda.
Por Lourival de Oliveira
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