Os Farrapos
Farrapos ou farroupilhas foram
chamados todos os que se revoltaram contra o governo imperial, e que culminou
com a Proclamação da República Rio-Grandense. Era termo considerado originalmente pejorativo, já
utilizado pelo menos uma década antes da Guerra dos Farrapos para designar os
sul-rio-grandenses vinculados ao Partido Liberal, oposicionistas e radicais ao
governo central, destacando-se os chamados jurujubas.
O termo, oriundo do parlamento, com o tempo foi adotado pelos próprios revolucionários,
de forma semelhante à que ocorreu com os sans-cullotes à
época da Revolução
Francesa. Seus oponentes imperiais eram por eles
chamados de caramurus ou camelos, termo jocoso em geral
aplicado aos membros do Partido
Restaurador no Parlamento Imperial.
Em 1831, no Rio de Janeiro, havia os jornais Jurujuba dos Farroupilhas e Matraca
dos Farroupilhas. Em 1832 foi
fundado o Partido Farroupilha pelo tenente Luís José dos Reis Alpoim, deportado do Rio para Porto Alegre. O grupo se
encontrava na casa do major João Manuel de Lima e Silva (tio
de Luís Alves de Lima e Silva, que viria a ser o Duque de Caxias), casa esta que era
sede também da Sociedade
Continentino, editora do jornal O Continentino, ferrenho critico ao Império. Em 24 de outubro de 1833, os farroupilhas promoveram um levante contra a
instalação da Sociedade
Militar em Porto Alegre..
Inicialmente, reivindicavam a retirada de todos os
portugueses que se mantinham nos mais altos cargos do Império e do Exército,
mesmo depois da Independência, respaldados pelo Partido
Restaurador ou caramuru.
Os caramurus almejavam a volta de D. Pedro I ao governo do Brasil.
No entanto, é bom notar que entre os farrapos havia os
que acreditavam que só tornando suas províncias independentes poderiam obter
uma "sociedade chula", ou seja, administrada por provincianos. Havia,
portanto, estancieiros, estancieiros-militares, farroupilhas-libertários,
militares-libertários, estancieiros-farroupilhas, abolicionistas e escravos que
buscavam a liberdade, e assim por diante, numa combinação e interpenetração
ideológica sem fim. Inicialmente nem todos eram republicanos e separatistas,
mas os acontecimentos e os novos rumos do movimento conduziram a esse desfecho.
A maçonaria sulista,
tendendo aos ideais republicanos, teve importante papel nos rumos tomados,
sendo que muitos dos líderes farroupilhas foram seus adeptos, dentre eles,
Bento Gonçalves da Silva, com o codinome Sucre. Bento organizou outras lojas maçônicas
no território rio-grandense, o que lhe havia sido permitido desde o ano de
1833.
A Revolta Farroupilha
No ano de 1835 os
ânimos políticos estavam exaltados. O descontentamento de estancieiros,
liberais, industriais do charque e militares locais promoviam reuniões em casas
de particulares, destacando-se a figura de Bento Gonçalves. Naquele ano foi nomeado como presidente da Província Antônio Rodrigues Fernandes Braga, que chegara ao posto pela indicação de Bento Gonçalves
e, apesar de ser rio-grandense, passara tanto tempo servindo o Império na
Europa e nos Estados Unidos, logo após seus estudos em Coimbra, que não tinha
laços suficientemente sólidos estabelecidos no Rio Grande.[19] Fernandes
Braga, apesar de inicialmente ter agradado aos liberais, logo entrou em atrito.
Na sessão inaugural
da Assembleia Provincial, perante uma plateia
majoritariamente hostil, acusou os liberais extremados de planejarem separar o
Rio Grande do Sul do Império e uni-lo ao Uruguai, mencionando Bento Gonçalves e referindo-se também a Lavalleja e ao seu mentor, o indigno Padre Caldas.
Houve protestos e contra-protestos em sessões seguidas, Fernandes Braga ainda
tentou corrigir-se e apaziguar os ânimos, mas já era tarde demais.
Na noite de 18 de setembro de 1835, em uma reunião onde estavam presentes José
Mariano de Mattos (um ferrenho
separatista), Gomes Jardim (primo
de Bento e futuro presidente da República
Rio-Grandense), Vicente
da Fontoura (farroupilha, mas anti-separatista), Pedro Boticário (fervoroso
farroupilha), Paulino
da Fontoura (irmão de Vicente, cuja morte seria imputada a Bento
Gonçalves, estopim da crise na República), Antônio
de Sousa Neto (imperialista
e farroupilha, mas que simpatizava com os ideais republicanos) e Domingos José de Almeida (separatista
e grande administrador da República), decidiu-se por unanimidade que dentro de
dois dias, no dia 20 de setembro de
1835, tomariam militarmente Porto Alegre e
destituiriam o presidente provincial Antônio Rodrigues Fernandes Braga.
Em várias cidades do interior as milícias foram alertadas
para deflagrarem a revolta. Bento comandava uma tropa reunida em Pedras Brancas, hoje cidade de Guaíba.Gomes Jardim e Onofre Pires comandavam
os farroupilhas aquartelados, com cerca de 200 homens, no morro da Azenha, o atual cemitério São Miguel e Almas. Também mantinham, no dia 19 de setembro de
1835, um piquete com 30 homens nas imediações da ponte da Azenha, comandado por Manuel
Vieira da Rocha, o cabo
Rocha, que aguardava o amanhecer do dia 20 para investir, junto com o
restante da tropa, contra os muros da vila. Porém Fernandes Braga ouvira alguns
boatos e, desconfiado, mandou uma partida de 9 homens sob o comando de José Gordilho de Barbuda Filho, o 2° visconde de Camamu, fazer um reconhecimento
durante à noite. Descuidados e inexperientes, os guardas imperiais se deixaram
notar e foram atacados pelo piquete republicano e fugiram, resultando 2 mortos
e cinco feridos. Um dos feridos, o próprio visconde, sujo e ensanguentado
alertou Fernandes Braga da revolta.[15] Eram
11 horas da noite de 19 de setembro de 1835.
Fernandes Braga ainda tentou organizar uma resistência e,
ao amanhecer, estava junto ao arsenal de
guerra, hoje ponta do Gasômetro, tentando reunir homens para a resistência. Porém, até o
meio da tarde somente 17 homens se apresentaram para defender a cidade, pois o
8° Batalhão de Caçadores, comandado por João Manuel de Lima e Silva havia se
declarado revolucionário. Vendo a escassez de armas e munição, Braga resolveu
fugir a bordo da escuna Rio-Grandense, seguido pela
canhoneira 19 de Outubro,
indo parar em Rio Grande, então maior cidade da Província, não sem antes voltar
ao palácio do Governo, pegar alguns documentos e todo o dinheiro dos cofres
provinciais.
Os farroupilhas adiaram a investida combinada, devido ao
inusitado da noite anterior. Somente ao amanhecer o dia 21 de setembro de
1835, chegaram às portas da cidade Bento Gonçalves e os demais comandantes,
seguidos por suas respectivas tropas. Porto Alegre abandonada, sem resistência,
entregou-se aos revolucionários. No resto da província apenas alguns focos de
resistência em Rio Pardo e São Gabriel, além de Rio Grande, mantinham os
farroupilhas ocupados.
A Câmara
Municipal reuniu-se extraordinariamente para ocupar o cargo de
Presidente. Na ausência dos vice-presidentes imediatos, assumiu o quarto vice,
Dr. Marciano Pereira Ribeiro Em 25 de setembro Bento
Gonçalves expediu uma carta ao Regente Imperial, padre Diogo
Antônio Feijó, explicando os motivos da revolta e
solicitando a nomeação de um novo Presidente e comandante das armas. Os revoltosos davam, então, o conflito
por encerrado.
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