Antecedentes e causas
A justificativa original para a revolta baseia-se no
conflito político entre os liberais, que propugnavam modelo de estado com maior
autonomia às províncias], e o modelo imposto pela constituição de D.
Pedro I, de caráter unitário. Além disso, havia
disseminação de ideais separatistas, tidos por muitos gaúchos como o melhor
caminho para a paz e a prosperidade, seguindo o exemplo da Província
Cisplatina.
O movimento também encontrou forças na posição
secundária, tanto econômica como política, que a Província de São Pedro do Rio Grande ocupava
no Brasil, nos anos que se sucederam à Independência. Diferentemente de outras províncias, cuja produção de
gêneros primários se voltava para o mercado externo, como o açúcar e o café, a do Rio Grande do Sul produzia principalmente para o
mercado interno. Seus principais produtos eram o charque e o couro, altamentetributados. As
charqueadas produziam para a alimentação dos escravos africanos, indo em grande quantidade para abastecer a atividade mineradora nas Minas
Gerais, para as plantações de cana-de-açúcar e para
a região sudeste, onde se iniciava a cafeicultura[5]. A região, desse modo, encontrava-se muito dependente do
mercado brasileiro de charque, que com o câmbio supervalorizado,
e benefícios tarifários, podia importar o produto por custo mais baixo. Além
disso, instalava-se nas Províncias Unidas do Rio da Prata uma
forte indústria
saladeiril, da qual participava Rosas, e que, junto com ossaladeros do Uruguai, que deixara de ser
brasileiro depois da Guerra
da Cisplatina, competiria pela compra de gado da região,
pondo em risco a viabilidade econômica das charqueadas sul-rio-grandenses.
Consequentemente, o charque rio-grandense tinha preço maior do que o similar
oriundo da Argentina e do Uruguai, perdendo assim competitividade no mercado interno. A
tributação da concorrência externa era uma exigência dos estancieiros e
charqueadores. Essa tributação não era do interesse dos principais compradores
brasileiros que eram os que detinham as concessões das lavras de mineração, os
produtores de cana-de-açúcar e os cafeicultores, pois veriam reduzida a lucratividade das mesmas, por
maior dispêndio na manutenção dos escravos.
Há que considerar, ainda, que o Rio Grande do Sul era
região fronteiriça aos domínios hispânicos situados na região
platina. Devido às disputas territoriais nessa área,
nunca fora uma Capitania
Hereditária no período
colonial e, sim, parte de seu território, desde o século
XVII ocupado por um sistema de concessão de terras a chefes
militares. Esses dispunham de capacidade de opor-se militarmente ao fraco
exército imperial na região. Ainda mais, na então ainda recente e desastrosaGuerra
da Cisplatina, que culminou com a perda da área
territorial do Uruguai, anteriormente anexada ao Brasil, as posições dos militares e caudilhos locais foram
sobrepujadas por comandos oriundos da corte imperial (como o Marquês
de Barbacena). Os contatos frequentes, inclusive negócios
do outro lado da fronteira, mostraram aos caudilhos locais as vantagens de uma república, com suas bandeiras de igualdade, liberdade e
fraternidade trazidas da Revolução
Francesa. Além disso a imposição de presidentes
provinciais por parte do Governo imperial ia contra o direcionamento político
daAssembleia Legislativa Provincial do
Rio Grande do Sul, criando mais um motivo de desagrado da elite regional.
Também é preciso citar o conflito ideológico presente no Rio
Grande do Sul, que havia sofrido diversas tentativas
menores de criação de uma república, iniciando com as tentativas insanas de Alexandre Luís de Queirós e Vasconcelos, que proclamou a república três vezes no início do século
XIX, ou a Sedição
de 1830, que visava a substituir a monarquia pela
república em Porto Alegre e que teve a participação de diversos imigrantes
alemães (Otto Heise, Samuel
Gottfried Kerst e Gaspar
Stephanousky), mas foi prontamente sufocada .
O descontentamento reinante na província foi objeto de
diversas reuniões governamentais, especialmente a partir de 1831, quando
começam a circular insistentes boatos sobre a separação da província visando a
unir-se ao Estado Oriental, também preocupados com informações de que, na
fronteira, se pregava a revolução, sendo prometida a liberdade aos escravos. No Uruguai vivia refugiado o padre
Caldas, revolucionário da confederação
do Equador, que mantinha um jornal de idéias
republicanas, além de animada correspondência com os comandantes da fronteira,
incluindo Bento Gonçalves.
O conflito ideológico foi exacerbado com a criação da Sociedade
Militar, no Rio de Janeiro, um clube com simpatia
pelo Império e fomentador da restauração de D. Pedro I no
trono brasileiro]. Um dos seus líderes foi o Conde
de Rio Pardo, que ao chegar a Porto Alegre em outubro de 1833, fundou ali uma filial. Os estancieiros rio-grandenses
não viam com bons olhos a Sociedade
Militar e pediam que o
governo provincial a colocasse na ilegalidade. Entre os protestos eclodiu uma
rebelião popular, liderada pelos majores José
Mariano de Matos e João Manuel de Lima e Silva que
foi logo abafada e seus líderes punidos.
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